'Nurture', segundo álbum de Porter Robinson, está entre nós. E ele é lindo.

Sete anos depois de seu debut, músico traz um álbum carregado de emoção e experiências pessoais.


Porter Robinson | Divulgação 

O ano era 2014. Porter Robinson não fazia ideia de que estava prestes a lançar um dos álbuns mais importantes daquele ano ao criar 'Worlds', que renovou o gênero da música eletrônica e foi um dos responsáveis por ditar as novas influências desse cenário nos anos seguintes, anunciando o nome do jovem produtor para o mundo da melhor forma possível. Ou pelo menos, era o que parecia.

Com apenas 18 anos na época e com uma tour extremamente bem sucedida, de um álbum também bem sucedido, o sonho parecia se tornar pesadelo quando um período de grande ansiedade e depressão tomou conta de Robinson, ao ter que lidar com a fama repentina e todo o stress que vinha junto ao seu sucesso. Dessa experiência, nasceu 'Nurture', que vinha sendo desenvolvido e moldado nesses sete anos de um suposto hiatus do cantor.

Nurture | Sample Sized

Lançado nessa última sexta feira (14), o álbum de 14 faixas expressa toda essa jornada de luta, celebrando a vida após um período ruim. 'Nurture' transpira esse sentimento de uma forma única e extremamente pessoal.

Em sua sonoridade, é quase como se respirasse ar puro, tendo grande influência no lo-fi oriental e músicas de animes japoneses com aquele teor melancólico e ao mesmo tempo otimista. Então espere ver muito piano, efeitos sonoros, sons de rua, florestas e texturas brilhantes aqui. Tudo tenta passar essa fusão de eletrônica com o orgânico da natureza. E esse conjunto é visto com clareza logo na intro, 'Lifelike', com piano, harpa, flautas e ocarinas que parecem ter saído de um dos jogos da franquia de Zelda. E é visto também pela sua faixa seguinte, 'Look At The Sky', que retorna ao synth-pop bem vivido e encorpado, familiar de seu último álbum.

Comparado ao seu antecessor, 'Nurture' quase não tem colaborações, dando espaço para Porter brilhar sozinho e aproveitar sua voz de vários jeitos diferentes. Afinal, nada mais justo do que o próprio artista cantar em um álbum tão pessoal. 

Ambas as músicas possuem um efeito, deixando sua voz mais fina, tornando-a afeminada. Ele chega a brincar com esses vocais, juntando a sua voz sem nenhum efeito a eles e criando duetos simulados em algumas das faixas, como os singles 'Mirror' e 'Something Comforting'. Criatividade essa vista também vista no último álbum de seu amigo Madeon, que também utiliza de um método parecido na voz.

Video oficial de Look at the Sky | Sample Sized

O álbum ainda se sobressai bastante em sua composição, trazendo os temas que mencionei, mas muito bem aprofundados. Autoaceitação, o conflito interno com a ansiedade, a importância de sua mãe e o conforto que ela representa em horas de desamparo, o apreço pela natureza, pela vida e a verdadeira comemoração de entender o quão ela importa e tudo ao seu redor também. Todas essas questões são trabalhadas tão bem com as músicas durante o álbum, que me peguei chorando diversas vezes enquanto ouvia. 

E não é só na eletrônica e no dance que o álbum respira. Há muita coisa experimental, ambiente e orgânica em Nurture. 'Wind Tempos' soa como um grande interlúdio, fundindo sensibilidade de violinos e a experimentação de glitches e sons que "travam" a música durante a grande jornada até a sua tocante composição no piano. Assim como 'dullscythe', que estranha a princípio por parecer como uma bagunça, não manter um ritmo único. Mas tudo vale a pena quando a faixa culmina em um estrondoso final atmosférico, parecendo soar de outra dimensão. 

Wind Tempos | Sample Sized

Críticas? Temos, pois não é só de flores que se vive um homem (porque a capa do álbum é um campo de flores e tudo mais...)

Não dá pra dizer que o álbum se perde, mas pode se tornar tedioso em momentos. E é claro que isso pode ser explicado como sendo partes mais sensíveis do disco. Mas o conjunto inteiro da obra é. 'Blossom', por exemplo, é inegavelmente tocante na letra. Porém se torna um tanto desinteressante quando se ouve o álbum mais algumas vezes. É aquela pergunta do: "vale a pena voltar nela agora quando eu tenho essas?".

A presença dos vocais mais "femininos" também pode irritar um pouco, destoando um pouco daquele sentimento mais orgânico que Nurture transmite. Isso não é regra, mas acontece em alguns casos. E podemos falar de 'do-re-mi-fa-so-la-ti-do' que é legitimamente irritante?

Blossom | Sample Sized

Felizmente, é bem difícil focar nesses pequenos defeitos assim que o álbum fecha com chave de ouro em 'Unfold' e 'Trying To Feel Alive', que chegariam a me cansar de tanto elogiar toda a sua produção.

Sem dúvida um dos álbuns mais antecipados do ano, todos podem voltar os olhos para Porter Robinson novamente, pois Nurture entrega uma tracklist quase perfeita e muito bem centrada. Mas além de tudo, o álbum tem alma. Tem emoção. Tem humanidade. E tem um Porter Robinson evoluído e muito mais seguro de si mesmo, abrindo suas feridas para o mundo. Mas dessa vez pronto para celebrar o quão a vida merece ser vivida. 

2021 não tá nem na metade e já temos um dos melhores álbuns do ano entre nós.

Você pode ouvir 'Nurture' bem aqui ó. Já está disponível em todas as plataformas.



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