Entrevista: Georgia fala sobre Stranger Things, sonhos, e como foi gravar música na África (perto de leões!)

Georgia no clipe de "About Work The Dancefloor"

Talentosa. Criativa. Inovadora. Muitas são as palavras que poderíamos usar para descrever Georgia. A cantora, compositora, e produtora de 28 anos, já fez um pouco de tudo: jogou futebol profissionalmente, foi baterista para artistas como Kwes e Kate Tempest, e aprendeu a tocar vários instrumentos diferentes.

Georgia produz músicas que parecem ter saído diretamente dos anos 80, com um estilo próprio, que passeia pelo retrô-pop e o pós-punk. Além de "Georgia" (2015), seu elogiado álbum de estreia, a britânica também liberou alguns singles mais recentemente, tendo o último deles sido o sucesso "About Work The Dancefloor" que tocou em algumas das principais rádios do mundo. 


O Indieoclock bateu um papo super legal com a cantora, onde ela revelou gostar de Stranger Things,  como foi gravar música perto de leões, seus maiores sonhos, e muito mais! Confira:

A maioria das suas músicas tem uma pegada anos 80/retrô-pop, você sempre soube que queria trabalhar com esse estilo musical?
É justo dizer que sim. Por toda a minha infância, meus pais colocavam para tocar chicago house dos anos 80, techno de detroit, pop e pós-punk, então eu acho que esse som se enraizou em mim. Artistas como Kate Bush, Prince, Madonna, Depeche Mode, Human League, Eurythmics, e música dance/disco, foram apresentados a mim desde muito cedo; eu fiquei obcecada em como eles criavam esses sons e músicas. Ao invés de ler livros, eu ouvia discos. Esse foi realmente o meu estudo e de onde meu amor pela música surgiu, da minha família.

Quais são suas principais influências musicais? 
Essa é uma pergunta impossível de responder porque eu amo música, todos os tipos de música. Você pode encontrar algo de interessante em todos os gêneros, mas se eu tiver que responder, eu sempre me influencio por músicas que incluem alguma coisa diferente na composição. Alguma coisa que a destaque do resto. Isso pode ser um som interessante de sintetizador, uma ótima linha de baixo, uma bateria tocada ou programada maravilhosamente, um sample de uma música diferente, ou simplesmente uma melodia vocal ótima. Eu sou uma coletora de gravações, e eu acho que é importante ter uma mente aberta sobre música de todas as partes do mundo; isso, por sua vez, é o que me influencia.

Como você equilibra ser inspirada por outros artistas ao mesmo tempo em que desenvolve o seu próprio estilo?
Uau, essa é uma ótima pergunta! Eu acho que é sobre pegar informação da música de outras pessoas e adaptá-la à sua ideia, ao que você quer criar. É um processo. É sobre interpretar algo que você gosta em uma música no contexto da sua música. Por exemplo, pode ser que você ame o ritmo do baixo em uma música do Burning Spear, mas, você não está fazendo uma música de reggae, e colocou [o ritmo] no contexto de uma música pop, isso pode ser interessante. Eu não sei se faz sentido, mas é o que eu geralmente faço.

Uma parceria dos seus sonhos? 
Kanye West ou Kate Bush.

Você acha que o seu método de composição, e som em geral, mudaram muito desde o início da sua carreira até hoje? 
Mudaram significantemente e isso é tudo o que eu sempre quis. Desde o meu disco de estreia em 2015, eu tenho sido capaz de tirar proveito e melhorar em elementos da produção e composição, eu [já] sabia o que precisava ser melhorado e o que fazer diferentemente. Tudo que eu sempre quis foi ser melhor em composição de letras. Eu senti como se meu primeiro disco fosse um grande experimento e uma introdução maravilhosa ao meu mundo, contudo, desta vez, eu queria que o foco fosse minha voz e minha composição.



Como o seu processo de composição geralmente funciona? Tipo, a melodia, uma batida, o que surge primeiro?
Varia sempre para ser sincera. Ás vezes é um som interessante no sintetizador, ou um sample, e isso gera uma melodia e a ideia de uma música. Então eu desenvolvo uma estrutura simples, me certifico que tenha um gancho, e etc etc...

Você tem um lugar especial para escrever músicas?
Na verdade, não. Tipo, eu tenho um estúdio em casa, que é um lugar confortável para escrever e produzir, porque tenho todo o meu equipamento montado do jeito que eu gosto. Mas recentemente eu fui para a África do Sul, com o África Express, e fiz um álbum em uma cabana próxima a Joburg. Foi maravilhoso sair da minha zona de conforto e escrever música. Então agora eu me sinto muito confiante de que posso escrever músicas em quase qualquer ambiente. Tipo, eu estava em um lugar cercado por leões! hahah!

Qual foi a sua reação quando você ouviu sua música sendo tocada na rádio pela primeira vez?Surpresa total e entusiasmo!!! Foi incrível, todos os meus amigos e pessoas queridas estavam me mandando mensagem de texto e me dando os parabéns, foi um momento muito especial!

Eu vi que você trabalha com produção musical também, né? Como você começou a aprender sobre isso? O que despertou seu interesse na área?
Sim! Eu escrevo, produzo, e mixo todas as minhas músicas. Bom, meu amor pela produção começou quando eu ganhei um gravador de 4-track no meu aniversário, isso me deu a habilidade de gravar em fitas com apenas 4 canais disponíveis. E isso foi muito legal, porque foi como ter meu próprio estúdio no meu quarto. Rapidamente comecei a experimentar com isso, escrevendo milhares de músicas, batidas, etc. Isso me fez ter vontade de ser produtora. Eu vi o quão criativo isso pode ser!

Você acha que saber como produzir músicas te dá mais liberdade? Que isso te permite expressar melhor nas músicas as suas ideias? 
Totalmente! Eu me sinto auto-suficiente; não dependente de outras pessoas para criatividade. Foi sempre muito importante para mim ser capaz de fazer as coisas eu mesma.

Georgia | Créditos: Divulgação/Redes Sociais da cantora.

Você lançou seu álbum de estreia 'Georgia', em 2015, e então voltou em 2017 com o single "Feel It". O quão importante criativamente foi essa pausa para você? 
Isso foi muito importante. Nesse meio tempo, eu fui capaz de voltar ao estúdio e fazer em casa novas músicas, com a escrita, produção e mixagem perfeitas. 

Sua música mais nova, 'About Work The Dancefloor', usa muitos sons de sintetizadores que parecem ter saído direto da trilha sonora de algum filme do Steven Spielberg ou da série Stranger Things. Isso foi intencional? Qual foi a inspiração para a música? 
Haha! Não, Stranger Things não foi um som intencional, apesar de eu amar ambas as coisas que você mencionou. Eu acho que essa música nasceu de ouvir techno de detroit dos anos 80, mais especificamente Cybotron e também música pop como Depeche Mode. Eu prestei atenção na produção desses artistas, é por isso que no refrão tem um vocoder (processador de áudio) cantando uma melodia, porque o vocoder tem uma estética tão dos anos 80 e era usado para criar um som "do espaço". Talvez seja por isso que você diga Stranger Things. Em termo de sintetizadores, eles foram fortemente influenciados por Depeche Mode. Eu amo todas as camadas de sintetizadores em faixas como "Shake The Disease", eu queria tentar usar isso da melhor maneira que pudesse, então todos os sintetizadores que você ouve são sintetizadores outboard reais, e alguns são dos anos 80. Além disso, toda a mixagem passou por uma mesa SSL dos anos 80, então isso também contribui pra estética. Minha voz foi através de unidades outboard FX também. Nós fomos bem fundo com essa faixa.

Ainda sobre 'About Work The Dancefloor', o vídeo oficial tem um visual bem interessante e colorido (pessoalmente, eu poderia assistí-lo o dia todo haha). Então, como a ideia para o vídeo surgiu? 
Isso é muito gentil da sua parte! Bem, a ideia para o video veio totalmente do diretor NYSU. Nós queríamos algo diferente, impactante, e talvez um pouco surreal também. Nós recebemos um tratamento maravilhoso enviado pelo NYSU e ele chamou a nossa atenção com esses elementos que a gente queria. Então, quando eu falei com ele, sua ideia tinha evoluído ainda mais, ela basicamente focava em uma casa modelo (que no final ele construiu) e eu na casa fazendo coisas normais, um pouco perdida, talvez procurando por algo. Então, eu encontro o porão que tem um globo espelhado, ele se transforma em uma pista de dança, e eu sou consumida por ela. Ele md explicou que isso pode ser uma metáfora para a vida: 'Procurar por algo que está em nós mesmos, a casa é a nossa mente'. Bem, eu estava convencida. Eu achei isso óitmo! É muito raro trabalhar com um diretor que proponha todas essas ideias e cumpra... bem NYSU cumpriu!


Você recentemente esteve em turnê na Austrália e em outros países! Como você se sente sobre isso? Você imaginava que suas músicas te levariam para tão longe de casa um dia?
Ah, é tão incrível! Só o fato de eu estar fazendo essa entrevista com vocês no Brasil é simplesmente surreal! Eu sou muito grata que minha música esteja começando a conectar e viajar por todo o mundo, é o meu maior sonho!

Quais são suas principais metas para o futuro?
Fazer um novo álbum. Que os shows ao vivo conectem com mais pessoas ao redor do mundo. Que eu tenha uma turnê mundial. Que eu consiga continuar como musicista. Que eu continue escrevendo e melhorando minha composição e produção. Colaborar... a lista é longa! hahah

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Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves

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