Album Review: "Sucker Punch" dá um golpe certeiro nos ouvidos

Desde o lançamento de "Don't Kill My Vibe" em 2017, Sigrid ficou conhecida como uma das grandes promessas do pop escandinavo. Conforme mais singles de sucesso foram chegando, maior se tornou a expectativa sobre seus trabalhos futuros e a espera por um álbum de estreia. Na última sexta-feira (08), ele finalmente chegou!

Capa de "Sucker Punch" novo álbum da cantora Sigrid | Foto: Divulgação

Com o álbum "Sucker Punch", o primeiro de sua carreira, Sigrid parece contar a história de um relacionamento, desde o seu golpe certeiro e a paixão instantânea por ele causado, até a desilusão e chegada de conclusão de que 'não era pra ser'.

O "golpe baixo" (sucker punch, em inglês), parece se referir justamente a um amor avassalador, mas pode também ser interpretado como a relação da cantora com a fama, com os fãs, e com tudo que ela está experimentando pela primeira vez em sua carreira. É um álbum bem direto, com letras objetivas e, na maioria das vezes, com um sentido claro. Ou seja, é ouvir, relaxar, e curtir.

O disco começa com a canção homônima, "Sucker Punch", que é literalmente um soco musical, recheado de golpes pop fortes. A produção musical é fantástica, tendo a melodia como estrela principal da canção. Os falsetes que Sigrid faz nos agudos são muito interessantes, e é impressionante o controle que ela tem sobre a voz, fazendo as mais diversas firulas que encaixam tão bem no ritmo. O riff de guitarra ao fundo, no refrão, também faz toda a diferença. 

A progressão da melodia é bastante acertada e acompanha a letra da música, do começo da canção até o momento em que Sigrid canta "eu me apaixonei por você, eu perdi minha calma", podemos perceber a melodia evoluindo para um ápice (que ocorrerá no refrão); é como se a melodia tivesse vida própria e precisasse se preparar para tomar o "sucker punch" (golpe baixo): a "paixão desenfreada". O hit é uma explosão de pop experimental e talento, o começo com o pé direito do que promete ser uma grande jornada.

Mas aí aparecem alguns obstáculos no caminho da suposta grande jornada, os primeiros dela se chamando "Mine Right Now" e "Basic", que frustram totalmente toda a expectativa criada por "Sucker Punch". Ambas utilizam-se de vários clichês em suas letras e, apesar de também contarem com uma produção incrível, não impressionam e nos dão a impressão de só estarem ali para "ocupar espaço" e criar uma ponte entre "Sucker Punch" e "Strangers".

Em "Strangers" a qualidade lírica melhora significativamente, parece ser uma canção sobre desilusão amorosa, achar que alguém é algo que não é, mas, como sempre, pode ser também aplicada nos mais diversos contextos. A letra já ficou claro que é boa, o ritmo também, mas o que mais se destaca aqui é a qualidade vocal de Sigrid, aliada e sempre muito afinada com o tom da música.


"Don't Feel Like Crying" vem em seguida, renovando nossas esperanças de uma "grande jornada" para a cantora, já que é a segunda melhor música do álbum. Ela trata a dolorosa, já conhecida temática do "coração partido", por uma ótica completamente diferente e inovadora. O ritmo escolhido também é bastante perspicaz e, mais uma vez, complementa a letra da música e sua vibe de "sair de casa e me divertir para esquecer os problemas".

Chegando na metade do álbum, o nível realmente aumenta com "Level Up". A extensão vocal de Sigrid é algo realmente fora do comum e aqui conseguimos vê-la alcançar notas que até então não imaginávamos que ela era capaz, tudo com muita destreza e tranquilidade. A letra também é bastante inteligente e carrega um dos versos mais marcantes do álbum: "Na sua casa / Eu pego minha mala porque estou indo embora / E todos os problemas que nós dançamos ao redor / Estão flutuando no ar da meia-noite / Eu sei que você está tentado a simplesmente os deixar lá". O ritmo lembra um pouco a trilha sonora de video games, o que complementa a ideia de 'level up', evoluir, na língua dos jogos eletrônicos.

"Sight of You" nos dá uma sensação de conclusão. É como se o "relacionamento" descrito por todo o álbum, que serve como aparente tema principal, chegasse ao fim. Aqui temos uma espécie de explicação do nome do álbum: o "relacionamento" realmente acontece como um golpe baixo: avassalador,  inesperado, e efêmero: durando pouco e depois cada um seguindo seu próprio caminho.

Alguns gritos de Sigrid lembram a voz de Janis Joplin na próxima música da tracklist, "In Vain". A impressão que dá é que, nesta segunda parte do álbum, a ideia é explicar com maior profundidade e fornecer ao ouvinte mais detalhes sobre o tal  "relacionamento", como por exemplo nesta canção, a qual parece explicar os motivos que levaram os protagonistas a se envolverem.

A melodia difere bastante das outras músicas do álbum. Ela é mais lenta, com predominância do som do violão, o que lhe confere um tom mais sóbrio e sério, combinando com a profundidade da letra e do tema abordados. Na ponte, tem um solo de guitarra bem interessante e, como sempre, sintetizadores, que conferem uma sonoridade única.

"Don't Kill My Vibe", a queridinha de muitos fãs e, provavelmente trabalho mais conhecido da cantora vem em seguida. É um hit pop para ninguém botar defeito, com uma ótima sonoridade. Por esses motivos e muitos outros, ela não poderia faltar no tracklist, apesar de não se encaixar muito na temática principal do disco.


Chegamos então ao ponto alto do disco, "Business Dinners", sem dúvidas a melhor canção do álbum, ainda que muito subestimada. A letra é extremamente pessoal e sagaz, talvez até, a mais subjetiva dentre todas. Ela não se refere mais a um possível relacionamento, e sim, às expectativas que o público tem sobre ela, à pressão exercida por todos para que ela seja sempre doce e boazinha, enquanto tudo que ela quer (e afirma com confiança que será) é ela mesma.

"Never Mine" parece diretamente saída de algum filme de Steven Spielberg, ou da série Stranger Things, e fala sobre arrependimento.

"Dynamite" é outra música também já conhecida pelo público, mas, como "Basic" e "Mine Right Now", falha no quesito originalidade. Talvez com "Dynamite" seja um pouco pior (ou um pouco mais compreensível), já que é a música final do álbum e, como tal, possui a grande responsabilidade de encerrar a obra. A música tem uma pegada um pouco mais acústica, sendo seu som totalmente baseado no piano, o que lhe confere um ar dramático e triste: é o fim real do "relacionamento", é a aceitação de que é necessário seguir em frente, é o fim do álbum e da estória.

Considerações Finais
O disco apresenta uma produção impecável do início ao fim, com muitos momentos memoráveis e refrões "chiclete", a maioria das letras também nos oferece uma grata surpresa na composição. Era esperado, no entanto, que a cantora ousasse mais, talvez com a utilização e mistura de outros gêneros musicais, talvez na temática do álbum como um todo. Este é o problema quando você é muito bom no que faz: cria expectativas altas nas pessoas. Mas para um álbum de estreia, podemos ver com clareza a força de Sigrid e que este é apenas o começo de uma longínqua e bem-sucedida carreira.
Nota: 3 de 5.

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