Entrevista: Conheça o girlpower de Manaia

Manaia é um novo nome no cenário independente de pop rock nacional. Seu single debut chama-se Baby, uma composição poderosa e sombria que apresenta o estilo marcante da cantora: voz rasgada, letra intensa e atmosfera misteriosa. Tivemos a oportunidade de conversar com ela por telefone, e o resultado foi uma conversa muito descontraída e amigável.
Além disso, escutamos com exclusividade a próxima música da cantora, Medo, que será lançada dia 24. Essa faixa tem mais peso, fala sobre o medo de se entregar num relacionamento e a dificuldade de lidar com traumas passados. 

Indieoclock: É uma honra conversar com você para te apresentar para nossos leitores. 
Seu lançamento de estreia, Baby, tem um clipe muito bonito e com significado poderoso. Você participou da criação visual?
Manaia: "Sim, na verdade sim. Quando a gente tava decidindo sobre o videoclipe, me foram apresentadas várias ideias e eu não gostei de nenhuma, porque para mim a ideia principal tinha que mostrar uma gaiola de alguma forma. Aí a gente veio com a gaiola partindo da roupa como parte do cenário, preso com tudo, e isso veio de ideia dentro de reunião mesmo, mas eu disse 'Quero alguma coisa ligada à gaiola, porque é exatamente o que eu quero falar'. Mas a gente conversa. Eu não vou fazer uma coisa que eu não gosto, né? É por isso que tenho que ficar decidindo várias coisas. O Baby foi interessante porque eu não gostei de nenhuma ideia que eles me passaram e falei 'Não, a gente vai fazer a gaiola' e partiu daí."
Indieoclock: Tem uma nova música sua para ser lançada semana que vem, chamada Medo. Você pode falar um pouco mais da inspiração?
"Quando escrevi, tinha acabado de voltar para a faculdade, eu tava presa a um ex-namorado... Nem é namorado, né? Aquele cara que você gosta e fica amando. Ele era da minha faculdade e era muito machista, e eu era uma das poucas mulheres que fazia Engenharia Industrial e era um pouco mal falada, né, e ele me via um pouco assim. (...) Mas por ele ter muito esse jeito machista, pegador, de que pode fazer o que quiser mas a mulher não pode, eu não quis ir pra frente com ele porque vi que ia ficar muito presa. Mas hoje quando canto medo, não é pensando nele. Eu canto pensando em mim, 'Cara, eu tenho medo de me amar', de fazer as coisas que deixei de fazer. Agora eu canto para mim e deixei ele lá no passado."
Indioclock: Bem melhor, né? Deixar o embuste de lado. (risos)
Manaia: "Sim, fecha a porta!"
Sobre o clipe dessa faixa, a cantora comenta: "Vai partir mais do cenário. A gente quer mostrar muito do trem, as luzes de led..."

Indieoclock: Todas as suas faixas são todas autobiográficas ou você também se inspira em coisas externas?
"Eu me inspiro bastante em coisas externas, eu pego de séries, coisas que vejo no dia a dia ou que uma pessoa passou. Minha irmã passou por uma parada na vida dela e eu fiz uma música sobre isso, mas com o meu ponto de vista, meio diferente. Tô numa linha agora de querer escrever músicas com nomes de mulheres poderosas, eu gosto de me inspirar em muitas coisas."
Indieoclock: Essas faixas serão lançadas num EP ou já serão parte do seu primeiro álbum?
"A gente vai lançar essas faixas agora como singles, porque vem Cobra Cascavel depois de Medo, e isso fecharia o EP. Queremos trabalhar o álbum pro começo do ano que vem já, mas vem com outra pegada, outras músicas. Mas queremos finalizar esse ano com um EP. E cada uma tem uma pegada: a Vitrine é um jeitinho fofo de falar da depressão, já Cobra Cascavel é mulher poderosa total."
Indieoclock: Esse primeiro projeto vai trazer um conceito sobre libertação pessoal?
"Isso! Acho que é muito isso, se libertar, ser quem você quer ser, fazer as coisas que quer fazer e ser livre. Essa ideia do Baby, do contexto de sair das amarras, que eu não podia ser música dentro de casa, não podia fazer tantas coisas, e na hora que me vi livre quis mostrar para todo mundo que pode sair da gaiola, porque eu saí."
Indieoclock: Sua banda é formada exclusivamente por mulheres, né? Isso é muito empoderador. Foi uma decisão consciente ou simplesmente foi acontecendo? 
"Foi decidido em reunião: 'Eu quero banda de mulheres, quero tocar com mulheres'. Mulher tem que estar unida, depois de tudo que a gente passou na sociedade, eu disse 'Não, eu quero mulheres unidas e poderosas' e a banda veio daí."

Indieoclock: Quais principais desafios que você vê para uma mulher cantando sobre assuntos tão fortes no cenário alternativo nacional hoje?
"Eu falo sobre tudo, né? Eu acho que o homem sempre falou de tudo, falou de sexo, e mulher não pode falar? Tem até uma música que eu falo 'Mulher não pode ser indecente? Eu também quero ser indecente, escrever sobre sexo, eu também faço sexo, cara.' Isso é muito errado, parece que não tá vendo a gente como gente, mas sim como objeto, essa coisa de 'eu sou seu dono'. Eu quero falar do que eu quiser falar, eu tenho coração, rim, tudo que você tem, meu sangue é vermelho também, eu sou igual. No mundo da música tive sorte de não sofrer por ser mulher, mas no meu outro trabalho sim, já fui muito menosprezada mas passei por cima. Inclusive eu sou formada em Engenharia Industrial, que é uma área que não tem mulher, tinha duas na minha sala. Mas depois desenvolvi bastante respeito."

Indieoclock: Você ficou entre os finalistas do American Idol Tour - Live Experience nos Estados Unidos. Como foi a experiência?
"Cara, foi muito louco, parece que eu caí de paraquedas. Eu viajei por uma semana de férias no escritório, fui pra Disney com minha família e quando vi sobre [o concurso] pensei 'Ah, vou tentar, deve ser rápido'. Quando eu vi, cantei de um pro outro, e fiquei o dia inteiro. Eu fui uma das finalistas, ganhei no primeiro show, mas foi muito louco, do nada. Eu não imaginava mas voltei com essa pegada de 'Eu vou fazer isso da minha vida.' Da minha família, eu só ouvia não, então foi muito bom"

Indieoclock: Li que você tem influências muito boas e é bem eclética. Quais artistas mais tem te inspirado ultimamente?
"Hoje escuto bastante Sia, curto bastante Lorde, gosto muito dela. Maroon 5, Coldplay... Rock e pop, né? Mas escuto sertanejo, samba, MPB. Mas escuto muito Sia."
Vem alguma composição em inglês futuramente ou prefere escrever em português?
"Tenho várias em inglês, inclusive estou voltando a escrever em inglês agora. Até músicas em português com frases em inglês, falavam que eu não podia fazer mas pensei 'Foda-se, vou fazer.'"

Indieoclock: Você tem algum guilty pleasure musical? 
"Cara, eu sou muito eclética. Mas eu escuto muito metal, as pessoas não imaginam e surtam quando eu falo. Música pauleira, o cara gritando quase sem voz mesmo! Esse tipo de música me acalma, olha que interessante."

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